O Corrupto-Mór

                        “Quem furta pouco é ladrão,   

                        Quem furta muito é barão;

                       Quem mais furta e esconde

                       Passa de barão a visconde.” 

                      Os versos de mal-dizer, anônimos, referem-se ao Visconde do Rio Seco, o maior corrupto que veio de Portugal com a Corte de D. Maria I e seu filho D. João.Joaquim José de Azevedo foi o encarregado de organizar a fuga, oficialmente chamada de translado da Corte portuguesa para o Brasil. Depois de exercer vários cargos importantes no reinado de D. Maria I, na madrugada de 25 de novembro de 1807 deram-lhe dois dias para cuidar de toda a logística do embarque. Tinha carta branca até para decidir quem viria e quem não deveria vir. O plano de fuga era antigo e estava acertado como os ingleses, que dariam cobertura armada à frota. Mas como o Príncipe D. João tinha dúvidas e tentou enganar os franceses até i último minuto, ninguém tinha coragem de se mexer para os preparativos da viagem.

          A notícia, publicada em Paris, de que Napoleão havia dito que a Casa de Bragança já não reinava, disparou a decisão. À meia-noite acordaram o Oficial da Corte Joaquim José para uma reunião com o Conselho de Estado, no Palácio Real. E lhe deram ordem para organizar o embarque imediato.Ele tratou de assegurar lugar para a própria família e para seus bens, e dirigiu-se ao porto. O mau tempo adiou a viagem para o dia 29 e ainda assim a pressa e o improviso deixaram a organização a desejar.O Tesouro Real não veio todo. Como não vieram os livros da Biblioteca Real e muitos documentos importantes de governo. Não vieram todos os arquivos necessários e ficou muita louça, roupa e carruagens. As ucharias reais deixaram para trás muita comida que faria falta nos dois meses da viagem. E muitos nobres viajaram apenas com a roupa do corpo, na pressa de embarcar.O próprio Azevedo embarcou a família com calma,  mas resolvendo os últimos problemas burocráticos não conseguiu embarcar, impedido pela multidão em fúria. Chegou ao navio já no dia 29, num barquinho a remo que lhe custou uma pequena fortuna. E foi obrigado a deixar no cais documentos e seu próprio dinheiro…

          Chegado ao Rio ele tratou logo de recuperar suas perdas financeiras, ocupando o cargo de encarregado das  compras e do abastecimento da despensa real.Enriqueceu tanto e tão rapidamente que sua imagem ficou ligada á roubalheira e a corrupção, expressada em muitos versos populares. A tal ponto que, na volta de D. João a Portugal, as Cortes proibiram a sua volta.

          Até no teatro ele era personagem ridicularizado.Ficou no Brasil, gozando de grande conforto, num palacete do Rossio (atual Praça Tiradentes) que está sendo restaurado mas que por um tempo abrigou o Detran, palco de muita transação corrupta. Locupletou-se no poder e ganhou o título de Barão do Rio Seco a 13 de agosto de 1812. Depois, em 16, foi elevado a Visconde. E a 1º de dezembro de 1822, D. Pedro I deu-lhe o título de “visconde com grandeza”, o primeiro no país.A 12 de outubro de 1826, D.Pedro deu-lhe um título brasileiro, o de Marquês de Jundiaí.

          No Museu Imperial, em Petrópolis, há um manuscrito seu de cem páginas, destinado a D. Pedro. E em que ele nega, em detalhe, todas as acusações de corrupção e malversação de dinheiros públicos.  Só que o povo, insistia no mal-dizer: 

“Rico ladrão, foi a Conde

E mais ainda a Visconde.

Não parou de roubar, e aí,

Virou Marquês, de Jundiaí.”         

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